Autor do livro “Vozes da Legalidade”, recentemente publicado, o convidado rememorou episódios, alguns pitorescos, que marcaram aquele final de agosto de 1961. Segundo expôs, os indícios para o controvertido gesto de Jânio Quadros dão conta de que ele tinha em mente fechar o Congresso Nacional a fim de fortalecer o seu poder. Ao renunciar, imaginava que contaria com o apoio popular para alcançar seu intento, o que acabou não se concretizando.
Com base nas pesquisas realizadas sobre o assunto, Juremir contou alguns detalhes da articulação política e militar que se seguiu após a saída de Jânio, tendo como um de seus principais protagonistas o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola. Ele requisitou a Rádio Guaíba para mobilizar a população no sentido de garantir a posse de João Goulart, conforme determinava a Constituição da época, ao contrário do que pretendiam importantes lideranças nacionais, sob o pretexto de que o vice-presidente poderia implantar o comunismo no Brasil.
Em reação, montou-se um verdadeiro cenário de guerra no Rio Grande do Sul, com direito a trincheiras protegidas por sacos de areia e arame farpado junto à sede do governo estadual, distribuição de armas à população e ameaças reais de bombardeio sobre Porto Alegre.
“A Legalidade não foi uma brincadeira, mas algo muito perigoso, a iminência de uma guerra civil e que resultou posteriormente em muitas punições: gente que foi presa e que teve sua vida devastada”, relatou Juremir, referindo-se à implantação do regime militar, três anos após o episódio de 1961. Mesmo assim, na sua definição, o levante ocorrido em terras gaúchas se constituiu numa história fantástica de heroísmo, desprendimento e de respeito à lei. “A Legalidade serviu como exemplo de que as pessoas podem lutar simplesmente pelo que é certo, sem visar a nenhuma outra recompensa”, acentuou, acrescentando que o movimento pode servir de inspiração às gerações atuais para a busca de um mundo mais justo e transparente.
A palestra de Juremir Machado da Silva partiu de iniciativa da professora Marlise Meyrer e dos alunos da disciplina de História do Brasil IV, do Curso de História, inserindo-se em programação que será desenvolvida até o dia 3 de setembro e que inclui uma exposição sobre os 50 anos da Campanha da Legalidade.
Na abertura do evento marcaram presença o diretor geral da Faccat, Delmar Backes; o presidente da mantenedora da instituição (Feein), Nicolau Rodrigues da Silveira; e a coordenadora do Curso de História, Dalva Reinheimer.