A nutricionista Amanda Jung, de 41 anos, defendeu sua dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Regional, intitulada "O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) como mercado institucional: A produção da agricultura familiar e o potencial de consumo da alimentação escolar nas Regiões Funcionais do Rio Grande do Sul". Orientada pelo prof. Dr. Jorge Amaral de Moraes, a pesquisa avalia como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) pode ser uma ferramenta estratégica para fortalecer a agricultura familiar no Estado, ao mesmo tempo em que melhora a alimentação dos alunos das escolas públicas.
O trabalho de Amanda foca na relação entre a produção de alimentos pela agricultura familiar e a demanda das escolas em nove Regiões Funcionais (RFs) do Rio Grande do Sul. A pesquisa aponta que a agricultura familiar tem capacidade para atender grande parte da demanda da alimentação escolar. “O desenvolvimento da agricultura familiar resulta em uma série de consequências positivas que incluem a promoção da biodiversidade, preservação do meio ambiente, o aumento da segurança alimentar, a preservação das características paisagísticas do território e do rico capital cultural das comunidades locais”, destaca Amanda.
A dissertação ainda destaca a importância de as compras de merenda escolar serem feitas junto a produtores locais, o que além de melhorar a qualidade nutricional das refeições, pode gerar mais renda para os agricultores. Além de ser uma contribuição importante para o setor, a pesquisa de Amanda traz reflexões sobre como o PNAE pode impulsionar o desenvolvimento regional.
Para Amanda, essa pesquisa representou um marco em sua trajetória profissional. " Foi muito importante e engrandecedor estudar tão profundamente a área que atuo há tantos anos. Com certeza muito das minhas decisões como nutricionista do PNAE mudaram após a escrita de trabalho”, conclui.
Resumo da Dissertação:
A dissertação tem como tema a política pública denominada Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), abordando, por meio de uma análise comparativa, as suas duas principais variáveis territoriais, a produção da agricultura familiar e a demanda potencial de alimentação escolar, no contexto dos territórios formados pelas nove (9) Regiões Funcionais (RFs) de planejamento do estado do Rio Grande do Sul. Indiscutivelmente, essa conexão entre a alimentação escolar e a agricultura familiar tem desempenhado um papel fundamental na transformação da alimentação nas escolas, permitindo que alimentos saudáveis, de origem regional e produzidos diretamente pelos agricultores familiares, sejam incorporados diariamente à dieta dos alunos da rede pública em todo o território brasileiro. Mesmo que vários estudos já tenham tratado do PNAE, ainda existem lacunas significativas, especialmente para os gestores do planejamento, públicos e privados, dessa política para o estado, no que se refere aos resultados de uma análise comparativa territorial da produção agrícola familiar e do potencial desse mercado institucional. A importância dessa política para os agricultores familiares e para os estudantes matriculados nas escolas públicas é evidente, mas em quais pontos o programa pode avançar? A produção da agricultura familiar é suficiente para atender à demanda das escolas públicas em todas as regiões funcionais do estado? O mercado institucional gerado pelas refeições servidas nas escolas pode impulsionar o aumento da produção e, consequentemente, elevar a renda dos agricultores familiares? Para realizar este estudo, foram analisados dados quantitativos relativos à produção agrícola da agricultura familiar, com base no Censo Agropecuário de 2017, e do número de estudantes das escolas públicas do Rio Grande do Sul. Estes dados da produção agrícola familiar e do número de estudantes foram agrupados e avaliados de acordo com as diferentes Regiões Funcionais (RFs) do estado. A fim de estimar a demanda de alimentação escolar conforme o número de alunos matriculados foi utilizado o padrão per capita dos escolares, calculado conforme cardápios sugerido de acordo com as necessidades nutricionais e os valores de referência para energia, macronutrientes e micronutrientes e conforme disposto na Resolução CD/FNDE n°06 de 08 de maio de 2020. Verificou-se que a agricultura familiar tem a oportunidade de expandir a sua produção para atender à demanda do mercado institucional estabelecido pelo PNAE, especialmente no que diz respeito aos produtos agroindustrializados. A agricultura familiar tem capacidade para suprir grande parte do potencial de consumo da alimentação escolar local, podendo, com isso, elevar a sua renda familiar. Na medida do possível, as compras da alimentação escolar deveriam ser realizadas de produtores familiares regionais-locais, como forma de reduzir custos de transporte e perdas. Porém, verificou-se que é relativamente grande a distância entre as principais regiões produtoras e a Região Metropolitana de Porto Alegre (RF1), responsável por 42% da demanda potencial total de alimentos para as escolas do estado.
