terça-feira, 04 de novembro de 2025 - 16:11
Estudo do Mestrado da Faccat analisa avanço do envelhecimento no Vale do Paranhana

A professora Dra. Dilani Silveira Bassan, do Mestrado em Desenvolvimento Regional da Faccat, está desenvolvendo uma pesquisa sobre o processo de envelhecimento nos municípios do Vale do Paranhana. O estudo analisa dados do Censo 2022 e aponta que a região acompanha a tendência nacional de crescimento da chamada “geração prateada”, formada por pessoas com 60 anos ou mais.

De acordo com o levantamento, municípios como Riozinho e Taquara apresentam índices expressivos de idosos em relação à população jovem. Em Riozinho, por exemplo, há 95 pessoas idosas para cada 100 crianças de 0 a 14 anos, número superior à média nacional registrada pelo IBGE. Os dados indicam tanto o envelhecimento natural da população quanto a migração de pessoas em busca de qualidade de vida em cidades menores.

A pesquisa também evidencia desafios quanto à inclusão produtiva desse grupo. Embora mais ativos e participativos social e economicamente, muitos idosos seguem trabalhando na informalidade, situação presente em mais de 50% dos trabalhadores com 60 anos ou mais no país.

Para a professora Dilani, compreender essa realidade é fundamental para planejar políticas públicas que assegurem qualidade de vida, acesso à saúde, lazer, educação e oportunidades de trabalho adequadas às necessidades da população idosa. “O envelhecimento populacional é uma realidade que exige atenção e ações integradas do poder público e da sociedade”, destaca a pesquisadora.

O estudo segue em andamento e envolve análise comparativa entre municípios da região, visando subsidiar debates e estratégias de gestão local.

Confira o artigo na íntegra:

 
 
O ENVELHECIMENTO NOS MUNICÍPIOS DO VALE DO PARANHANA
Por Dra. Dilani Silveira Bassan
 
O envelhecimento tem sido um fenômeno atual, ainda que venha ocorrendo em diferentes momentos no mundo. No Brasil este fenômeno também está presente, e a partir de anos mais recentes tem ocorrido de forma acelerada, o que demanda atenção special das autoridades na elaboração de políticas públicas que atendam as novas necessidades decorrentes deste processo de transição populacional. A “geração prateada” termo associado ao grupo da população 60+, faz referência aos
cabelos grisalhos, símbolo do envelhecimento, dando destaque a essa faixa etária como um grupo com identidade própria, cada vez mais ativo, participativo e relevante do ponto de vista econômico, social e cultural. Antigamente associava-se o envelhecimento  inatividade ou à dependência. No entanto, atualmente, essa geração é marcada por um perfil mais saudável, engajado e consumidor. A grande maioria da população 60+ continua trabalhando, empreendendo, estudando, viajando, cuidando da saúde e se conectando com novas tecnologias. Esse processo advém do aumento da expectativa de vida, dos avanços na medicina e da maior valorização da autonomia e do bem-estar ao longo da vida.
 
O Censo 2022 do IBGE revelou que o total de pessoas com 65 anos ou mais no país representava 22.169.101 ou 10,9% da população, com alta de 57,4% frente a 2010, quando esse contingente era de14.081.477, ou 7,4% da população. Este dado reflete uma realidade, é preciso dar mais atenção a população idosa, reforçando os atendimentos, principalmente de saúde, mas não só isso, proporcionar a esta população uma qualidade de vida atendendo as questões de lazer, educação e até mesmo de trabalho, pois esta é uma população que está retornando ao mercado de trabalho. Pesquisa realizada pela FGV/Ibre a partir dos dados da PNAD Contínua do IBGE mostraram que nos últimos 12 anos, o número de brasileiros idosos (com mais de 60 anos) ocupados profissionalmente cresceu 68,9%, saltando de 5,1 milhões em 2012 para 8,6 milhões em 2024, o que representa um aumento de 3,5 milhões de pessoas. Apesar deste crescimento, a realidade desta população está longe de ser ideal, pois em 2024, 53,8% dos ocupados com mais de 60 anos estavam na informalidade, um índice de 15,2 pontos percentuais superiores à média nacional de 38,6%.
 
No entanto, a escolaridade ainda é um fator que promove o subemprego desta população. A maioria da chamada “geração prateada” estão na informalidade, ou seja, 53,8%, sendo 15,2 pontos percentuais acima da população brasileira (38,6%), chegando a 68,5% entre aqueles com ensino fundamental completo, onde se concentra mais da metade dos trabalhadores 60+.
 
O resultado deste elevado número de idosos presentes na população brasileira se deve a mudanças como, redução nas taxas de fecundidade e mortalidade e uma elevação da expectativa de vida, muito associado a evolução dos tratamentos de saúde que permitem as pessoas viver mais anos com melhor qualidade de vida.
 
No Vale do Paranhana a situação não é diferente, o aumento da população 60+ tem sido um desafio para a gestão pública municipal, visando atender as demandas deste grupo. O Vale do Paranhana é composto por seis municípios, sendo eles: Igrejinha, Parobé, Riozinho, Rolante, Taquara e Três Coroas. Conforme o Censo de 2022 contava com uma população total de 188.259 habitantes. Esta região é caracterizada pela forte influência das culturas alemã e italiana que trouxe para região a gastronomia e as festas típicas. As belezas naturais fazem da região um importante atrativo turístico. O rio Paranhana, que dá nome à região, atravessa estes municípios, oferecendo paisagens ricas, esportes de aventura, como rafting e trilhas, além de opções de lazer em meio à natureza Estes aspectos regionais tornam-se atrativos, principalmente, para a população idosa que busca, não só qualidade de vida, mas também, momentos de lazer. A falta de dados atualizados gera uma dificuldade para a divulgação de resultados sobre o envelhecimento populacional no Vale do Paranhana. No entanto, procurando trazer uma noção o mais próximo da realidade possível, utilizou-se o Índice de  Envelhecimento, dados do Censo de 2022, que representa o número de pessoas com 65 anos ou mais de idade em relação a um grupo de 100 crianças de zero a 14 anos. Para manter a coerência com os demais indicadores utilizou-se como parâmetro 60+. Então
este indicador representa a razão entre o grupo de pessoas de 60 anos ou mais de idade em relação à população de zero a 14 anos. Assim, quanto maior o valor do indicador, mais envelhecida será a população.
 
 
Tabela 1 – Índice de Envelhecimento para os municípios do Vale do Paranhana
 
Município - Índice de Envelhecimento

Igrejinha - 54,53

Parobé - 44,01

Riozinho - 95,14

Rolante - 73,47

Taquara -74,75

Três Coroas - 61,43

Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2022

 
Analisando o índice de envelhecimento para os municípios do Vale do Paranhana, conforme Tabela 1, pode-se observar que o valor deste indicador é bastante elevado, como no município de Riozinho, que apresenta 95,14 pessoas idosas para cada 100 crianças de zero a 14 anos, superando o valor para o Brasil que em 2022 era de 80 pessoas idosas. Em segundo lugar, está Taquara com 74,75 pessoas idosas para cada 100 crianças de zero a 14 anos.
 
Estes dados podem indicar que os jovens estão saindo destes municípios em busca de oportunidade em outros locais, principalmente, trabalho, mas também, pode significar uma migração de pessoas na faixa etária 60+ em busca de qualidade de vida, já que a região oferece alguns atrativos.
 
Complementando a análise, a Tabela 2 apresenta os dados do número de idosos nos municípios do Vale do Paranhana para os anos de 2019 e 2021, acrescentando a população 80+. Estes dados, entre outros, estão disponíveis no site do IEDE –
Infraestrutura Estadual de dados Espaciais do RS, no GEOPORTAL RS, que é uma plataforma de compartilhamento de dados geoespaciais, serviços e painéis do Estado do Rio Grande do Sul.
 
Tabela 2 – Dados Idosos 60+ e 80+
 
Município  PercentualIdosos 60+Idosos 80+PercentualIdosos
Igrejinha - 12,64.48241293.187
Parobé - 11,66.52769884.553
Riozinho - 19,485210815669
Rolante - 16,73.608541122.762
Taquara - 17,310.1641.537137.751
Três Coroas - 13,53.561330102.617
 
Fonte: Iede.rs.gov.br
2019 - 2021
 
Observa-se na Tabela 2 que o número de idosos nos municípios de Riozinho e Taquara são bastante representativos, tanto em relação aos 60+ como também os idosos com 80+, assim como já havia sido constatado na Tabela 1, por meio do Índice de Envelhecimento.
 
Diante da presença de um grande grupo de idosos nos municípios, faz-se necessário políticas públicas que visem garantir os direitos desta população e promover melhorias sociais, pois parte desses idosos encontram-se em situação de vulnerabilidade. Embora seja dever de toda a sociedade proteger a os seus idosos, cabe ao poder público por meio de ações efetivas proteger esse grupo de qualquer tipo de negligência ou violência. Portanto, o envelhecimento populacional exige dos governos políticas públicas efetivas e direcionadas a atender as necessidades deste grupo etário, em razão de que as vulnerabilidades são muitas, associadas as condições físicas, psicológicas, patrimoniais e institucionais.
 
 
 
 
 
Pesquisadora Dra. Dilani Silveira Bassan
Pesquisadora Dra. Dilani Silveira Bassan