A Nova Zelândia e o seu exemplo de gestão das bovinoculturas de gado de leite e de corte pautou os debates desta quinta-feira, dia 17 de agosto, durante o I Seminário Inovação e Integração das Bovinoculturas de Carne e Leite: Perspectivas de Desenvolvimento para a Agroindústria Gaúcha de Proteína Animal, promovido pela coordenação do curso de Mestrado em Desenvolvimento Regional das Faculdades Integradas de Taquara (Faccat).
O evento, que prosseguiu com mesas redondas e debates até esta sexta-feira, dia 18 de agosto, contou com a participação especial do pesquisador e produtor neozelandês Philip Taylor. Ele apresentou o case da sua fazenda que, da iminência da falência, passou a ter lucratividade depois que intensificaram alguns métodos para a criação de gado de leite e de corte, como o Techno Grazing, que permite uma melhor infraestrutura com cercas elétricas permanentes e cercas móveis, com rotatividade no pasto, oferecendo uma grama de maior qualidade para o gado.
Taylor também lembrou que passaram a comercializar direto, sem intermediários, o que aumentou a lucratividade, além de passarem a criar touros, que também são mais lucrativos. Salientou que no Brasil ainda não há uma estrutura adequada para intensificar essa produção, que exige habilidades e equipamentos especializados. Admitiu, no entanto, que não teve ainda muito conhecimento sobre o que fazem os fazendeiros brasileiros, embora acredite que se for como no Uruguai, onde implantaram o método Techno Grazing, o Brasil consegue duplicar seu lucro neste setor.
A abertura do seminário contou ainda com as presenças do professor Dr. Mario Riedl, coordenador do Mestrado na Faccat; de Martinho Lazzari, diretor técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE); Nicolau Rodrigues da Silveira, presidente da Fundação Educacional Encosta Inferior do Nordeste, mantenedora da Faccat; Delmar Backes, diretor-geral da Faccat; Gilmar Tietböhl; superintendente do SENAR-RS; e do professor Dr. Carlos Águedo Paiva, pesquisador da FEE.
Pela manhã, os palestrantes Soraya Tanure, professora da UFRGS e José Miguel Pretto, consultor da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), traçaram um painel sobre a realidade produtiva da pecuária no segmente corte e leite. Soraya abordou os gargalos técnicos, de organização, produção e conhecimento que limitam o segmento no RS. De acordo com a pesquisadora, hoje são produzidos 70 kg de carne por hectare no Estado. Com ajustes nos gargalos citados, a produção poderia saltar para 400 kg. “Temos ainda uma peculiaridade valiosa que é o bioma pampa. Um ambiente que só existe aqui, com diversidade de mais de 2000 plantas que são a nutrição perfeita para uma carne de altíssima qualidade”, destacou.
O setor leiteiro por sua vez produz no Brasil 35 bilhões de litros por ano. Desse total, a maior parte vem do Sul (com 12 bilhões) seguido pelo Sudeste (com 11 bilhões). Dentre os Estados, o ranking posiciona Minas Gerais (9 bilhões de litros por ano), Paraná (4 bilhões e 660) e RS (4.600). “Os últimos dados mostram em torno de 84 mil produtores de leite no RS. É um setor relevante, disseminado por muitos municípios, com um grande potencial. No entanto, trata-se de uma cadeia produtiva ainda muito aberta e de baixa, muito baixa coordenação. Estamos distantes do mercado consumidor perdendo espaço na agricultura para o centro-oeste. O leite e a carne podem ser entendidos como o setor mais promissor. Contudo, é preciso negociar um projeto de longo prazo, como a integração pecuária-pecuária debatida aqui hoje”, defendeu.
Texto e informações: Jornalistas Roseli Santos (Faccat) e Sandra Bitencourt (FEE), com fotos de Roseli Santos.